terça-feira, 28 de julho de 2009

Desalinho


Sou apenas mais um
Entre tantos na multidão,
Mais um a observar as meninas
E as esquinas de contradição.

Sou um mais a procurar nas janelas
Possibiidades ao invés de nãos,
Mais um a esperar por um amor,
Que se perdeu na contramão.

Sou somente mais algum entre tantos,
Entre tontos outros irmãos,
Mais um a pagar uns trocados,
Para trepar com a dama da solidão.

Sou eu, sou apenas mais eu,
Mais um entre tantos eus em vão,
No vagão de um trem em desalinho,
Numa linha sem nenhuma inspiração.

Eu sou alguem do além,
Mais além que o mar e o sertão,
Talvez um andarilho sem porém,
Na bagagem muita vida e pouco pão.

Eu mesmo, sou eu, e você quem é?
Minhas máscaras já rolaram pelo chão,
Trago a face escancarada e o peito,
Não tem jeito, tenho medo de ser não.

Sou somente a semente do futuro,
E só mente a mente sem compaixão,
Sou mais um que de cima de um muro,
Vê mais luz do que suporta a escuridão.

Beijo pra quem é de beijo. Abraço pra quem é de abraço!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Diferente



" de perto ninguém é normal..." (Vaca Profana - Caetano)

Há tempo que eu venho querendo encarar o meu rosto,
Dizer-me impropérios sinceros, chamar-me de louco.
Mas fico esquivando atroz do meu eu eloqüente,
Querendo mostrar que é igual ser tão diferente.

Daí escancaro as janelas da leve minh ´alma,
E abraço meu eu com fervor, minha boca escancara,
Me beijo, me arranho, me digo palavras marcadas,
E deixo caírem sem graça todas as máscaras.

Descubro o profundo e o escuro de ser pelo avesso,
Mas que toda dor desemboca em um recomeço,
E aceito que o mundo é melhor se for desse jeito,
Transformo as doces esquinas em meu endereço.

Me perco em estrofes famintas do pão do sossego,
Me afogo em olhares fugazes, em bocas, em peitos.
Já não me esquivo e nem fujo do eu eloqüente,
Pois sei que eu me igualo a você porque sou diferente.

Roberto Ney O. Araújo Júnior

P.S.: Essa é um músico-poema de minha autoria que está na minha lista VIP de preferidos... (:

Como diria uma querida amiga : beijo pra quem é de beijo e abraço pra quem é de abraço... (by Mariana Sales.)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Assim é a vida...


Bela como a poesia,
Delicada como uma flor,
Perigosa como um abismo,
Livre como um condor,
Simples como uma galinha,
Complexa como um ovo,
Sutil como uma borboleta,
Espantosa como um polvo,
Inerte como um poste,
Saborosa como uma maçã,
Deliciosa como um brigadeiro,
Saltitante como uma rã,
Inóspita como o deserto,
Aconchegante como um ninho,
Longe e ao mesmo tempo perto,
Do fim, do caminho,
Tão diferente do início,
Inópia e com fome,
Tentadora como o precipício,
Difícil como a mente do homem,
Cheirosa como um perfume,
Fétida como um pântano,
Acesa como um vaga-lume,
Feia como um dia nublado,
Intrigante como um espelho,
Apagada como um farol queimado,
Rápida como um coelho,
Incessante como a saudade,
Despetalada como a grande-flor cidade,
Espelndorosa como a liberdade,
Solitária como uma prisão,
Complicada como dizer não,
Exuberante como um pavão,
Devastadora como um canhão,
Confortante como um caixão,
Impiedosa como o tempo,
Ardente como uma paixão,
É como uma folha ao vento
Arrastada sem direção,
Duvidosa como dois caminhos,
Amedrontadora como o escuro,
Lírica como um passarinho,
Intransponível como um grandioso muro,
Corrompida como o dinheiro,
Pura como uma criança,
Reluzente como uma estrela,
Eterna como a esperança,
Efêmera como a chama,
Bramada como o grito,
Calada como o silencio,
Mudo, aflito,
Ruidosa como um apito,
Imprudente como a guerra,
Problemática como a poluição,
Grandiosa como a terra,
Misteriosa como o mar,
Encantadora como a lua,
Sedutora como a carne
Nua, crua,
Algumas vezes inexplicável,
Outras, sem nexo,
Sensível como um abraço,
Prazerosa como o sexo,
Traiçoeira como um punhal,
Sorrateira como uma serpente,
Homicida sentimental,
Adolescente,
Simbólica como um sorriso,
Conselheira como um amigo,
Preciosa como a amizade,
Radiante como o brilho,
Límpida como a água,
Cega como o ódio,
Triste como a mágoa,
Almejada como o pódio,
Precípua como o alimento
Que nos garante o sustento,
É como o medo que apavora
E faz da vida um tormento,
Agitada como uma balada,
Trágica como o sofrimento,
Impensada como uma trepada
Rápida, sem sentimento,
Opressora como uma cela,
Perversa como a corrente,
Magnífica como a natureza,
Devorada pelas cidades vazias
Que corroem os sonhos,
A vida é grotesca como o cemitério,
É predestinada como o túmulo,
Imperceptível como as almas
Que vagam pelo mundo,
Salgada como uma lágrima,
Irresponsável como um cão vagabundo,
Subitânea como a sorte,
Amarga como a dor,
Inexorável como a morte,
Sublime como o amor.