quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Rabisco - Sobre o amor e outras guerras

Resolvi transmutar meu amor ao papel,
Descrevi teu sorriso
Mas não coube na rima.
Decidi, então, desvendar o teu véu
Mas o sol não se abriu
E a inspiração ficou cinza.
Pensei, pensei e ensaiei um Cordel,
Uma construção simples e com a inquietude subentendida,
Mas a poesia se perdeu,
Percorreu cada linha,
E continuou perdida.
Enquanto o amor germinava, eu o escrevia.
O amor desabrochava, mas eu não o entendia.
Cheguei a rasgar algumas páginas
Mas riscava cada verso que fazia,
Pois não gostava.
Pois não mais cabia.
Até que um ilustre dia,
Fatídico,
Escrevi um romance
Ininteligível,
Desbravei as palavras,
Desvelei os teus signos,
Mas enfim fiz um traço
E apaguei sem vestígios.
Decidi compor um samba canção
Mas o teu violão
Não acompanhava meu ritmo.
Foi assim que a palavra percorreu o vão das nossas maõs,
E do amor que era tão
Sobrou apenas um rabisco.

Queridos amigos, obrigado por terem me recepcionado de forma tão gentil e carinhosa. Que as palavras nunca se percam. E que nunca nos falte inspiração.

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.



quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A ave


Certa feita avistei uma ave,
Majestosa, imponente e envolta em um grande mistério,
Um anjo torto caído do céu.
Questionei-me, de logo, o sentido de ter asas,
Será mesmo bom ter tamanha liberdade?
Lembrei que também eu, outrora, as tive.
Dia após dia elas eram cuidadosamente aparadas,
Até que resolvi extirpá-las por completo.
Desaprendi a voar,
Fiquei inerte com o peso das dores e das responsabilidades,
Atônito com o império das horas,
E então, após tantos anos de desassossego,
Tranquei-me em uma grande gaiola.
A ave me trouxe de volta à esperança,
Mesmo ali, abatida pela crueldade humana,
Ela era livre
E, seu último suspiro rumo ao chão
Foi como um ilustre passo de dança.
Vê-la voar, ainda que rumo à morte, 
Trouxe-me de volta à vida.
Quando dei por mim
Um grande par de asas brotou das minhas costas.
Uma lágrima molhou o largo sorriso,
E eu voei.

Este poema é dedicado à peça "A ave", um solo de Agamenon de Abreu com direção de Rino Carvalho. Fiz a crítica em forma de poema, pois o espetáculo é um convite à poesia. A ave nos remete a uma inexorável reflexão sobre o que fazemos com nossas horas. A ave nos relembra que ainda sabemos voar, precisamos apenas deixar que as asas cresçam. A trilha sonora é impecável, o roteiro é bastante conciso, sem perder a leveza e a atuação é surpreendente. De repente, após o espetáculo, um par de asas brotou no meio das minhas costas. E eu voei. Venha voar também. Avoa.

Mais informações sobre a peça na página: https://www.facebook.com/events/278485735629075/?fref=ts

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Poema do desencontro - Sobre o amor e outras guerras.



O que se via era uma pausa,
Um sol que alumiava o quarto tal qual a luz acesa,
Procuravas uma cachaça para encher teu copo vazio,
Encontravas um bordel para curar tua tristeza.
E era triste ver o moço debruçado no vão dos teus nãos,
Nos abraços apertados que se tornavam poeira,
Na procura inesperada dos teus momentos de solidão,
Nos atalhos percorridos até tua boca tão alheia.
Houve um bom encontro, lá bem longe, quase nem se lembra.
Naquele tempo em que havia poesia
Mas ninguém desvelava o poema.
E a prosa sem rima não resistiu ao desejo de entender,
O que não pode ser entendido
Mas sentido, apenas.


Meus caros leitores, agradeço imensamente os pedidos para que eu reativasse o Blog e dessa vez voltei para ficar. Espero que continuem a vir e, já sabem, podem entrar sem bater. A casa é também vossa.

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.