quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Nudez

Nasci nu,
Mas a vida me vestiu de um jeito estranho,
Roupas pálidas com cortes imperfeitos,
Capas bordadas de um colorido sem tamanho.
Estilista excêntrica e deselegante,
Me despe com a pressa de um amante,
E me cobre depressa com outras possibilidades.
Essa vida que me ilumina com os holofotes da noite,
É a mesma que me esconde nas esquinas das cidades.
Cresci nu,
Mas tive que cobrir meu corpo com imagens,
Modelos que muitas vezes não me serviam,
Colares tais quais coleiras que me enforcavam.
Tive de usar sapatos apertados e alguns pés de palhaço,
Tive que fantasiar meus ideais para não assustar os que olhavam,
Por diversas vezes cheguei a ser coadjuvante do meu próprio espetáculo,
Só para não escancarar minha nudez.
Mas o tempo foi me ensinando
Que eu só devo vestir o que me faz bem,
Que os olhares oblíquos sempre me perseguirão,
E eu não quero nada além do que me convém.
Hoje visto roupas próprias, sem colares e sem disfarces,
Trago sempre a face nua,
E já não perco tanto tempo escolhendo o que usar,
Pois se eles oprimem minha nudez,
Também minhas vestes irão limitar.
Deixo que o vento siga seu curso,
Morrerei nu.