quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A ave


Certa feita avistei uma ave,
Majestosa, imponente e envolta em um grande mistério,
Um anjo torto caído do céu.
Questionei-me, de logo, o sentido de ter asas,
Será mesmo bom ter tamanha liberdade?
Lembrei que também eu, outrora, as tive.
Dia após dia elas eram cuidadosamente aparadas,
Até que resolvi extirpá-las por completo.
Desaprendi a voar,
Fiquei inerte com o peso das dores e das responsabilidades,
Atônito com o império das horas,
E então, após tantos anos de desassossego,
Tranquei-me em uma grande gaiola.
A ave me trouxe de volta à esperança,
Mesmo ali, abatida pela crueldade humana,
Ela era livre
E, seu último suspiro rumo ao chão
Foi como um ilustre passo de dança.
Vê-la voar, ainda que rumo à morte, 
Trouxe-me de volta à vida.
Quando dei por mim
Um grande par de asas brotou das minhas costas.
Uma lágrima molhou o largo sorriso,
E eu voei.

Este poema é dedicado à peça "A ave", um solo de Agamenon de Abreu com direção de Rino Carvalho. Fiz a crítica em forma de poema, pois o espetáculo é um convite à poesia. A ave nos remete a uma inexorável reflexão sobre o que fazemos com nossas horas. A ave nos relembra que ainda sabemos voar, precisamos apenas deixar que as asas cresçam. A trilha sonora é impecável, o roteiro é bastante conciso, sem perder a leveza e a atuação é surpreendente. De repente, após o espetáculo, um par de asas brotou no meio das minhas costas. E eu voei. Venha voar também. Avoa.

Mais informações sobre a peça na página: https://www.facebook.com/events/278485735629075/?fref=ts

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

3 comentários:

  1. Belo e sensível reflexão, Roberto! Parabéns também pelo olhar e abertura em relação ao espetáculo - é fundamental para todo aquele que quer entender e discorrer sobre fazer artístico adotar um olhar fenomenológico - o de se colocar diante da obra.

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  2. Que olhar bonito o seu sobre o trabalho do meu amigo querido, Agamenon de Abreu. Me tocou. Fico feliz e muito quando vejo que a arte toca uma pessoa dessa forma. Um abraço, Roberto Laplagne

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Obrigado pela visita. Espero que tenha tido uma boa leitura. Volte sempre... abraços!