
"Eu quero é que esse canto torto
Feito faca, corte a carne de vocês." (Belchior)
Pelas ruas esburacadas
Corre o esgoto a céu aberto
E em meio às casinhas de taipa,
Vivem os homens e os insetos.
Lá no fundo ecoa o lamento,
De uma mãe o choro aflito,
Acabara de morrer seu filho desnutrido,
Mais um ser perdeu seu alento.
A mulher segura no colo
A criança com a barriga galdia,
Clamando um prato de comida,
Mas a panela continua vazia.
E enquanto o pobre homem luta
Para ser habitante de sua própria cidade,
O outro homem nem o percebe,
Pois está atolado na mediocridade.
A cidade com duas faces,
Uma sadia e outra com pus,
Separadas por algumas passadas,
Que se transformam em anos luz.
O menino vive na rua,
Sem lar, sem educação,
Você vê, mas não enxerga,
Pois está inundada de egoísmo
E tem medo do pobre coitado,
Aquele menino, antes indefeso,
Mas que precisa sobreviver, como?
A solução é a sua bolsa
Daquela grife de Milão,
A mãozinha segurando a arma
Para com ela comprar seu pão,
Mas eu não posso reclamar
Nem você e nem a moça,
Pois a criança que era indefesa
Não tinha outra solução,
E teve que usar a arma
Que colocamos em sua mão.
Mas aquele homem também luta
Para ser habitante de sua cidade,
Ser um cidadão brasileiro,
Conquistar sua dignidade.
Contudo, seu grito é abafado,
Ou mesmo ignorado,
Por aqueles que têm o poder
E podem falar mais alto.
O menino que você repudiou
E a sociedade deixou de lado,
Hoje ele te roubou,
Mas quem é o verdadeiro culpado?
P.S.: Dedico este poema a todos os que, como eu, são apaixonados pela arte da poesia. Poesia é amor, é dor, é esperença, é revolta, é lembrança, é nostalgia, é tristeza e alegria. Poesia é isso tudo. "Ilumina a noite. Incendeia o dia."...
Grande abraço a todos!