segunda-feira, 25 de abril de 2011

Hábito


Era uma vez o amor,
Que não resistiu a tantos anos de desencontros,
Tantos segredos lançados pela janela,
Tantas promessas vestidas pelo engano.
Alguns sorrisos camuflavam as lágrimas solitárias,
Apenas as madrugadas testemunhavam os prantos,
Foram longas conversas com palavras caladas,
Fotografias coloridas para enfeitar as molduras.
Feriam-se com dizeres tangentes e amolados,
Chupavam-se desesperados em doses homeopáticas,
Um escorado nas fraquezas do outro,
E varriam todos os cacos para debaixo da cama.
Acostumaram-se à rotina dos que esperam o povir.
Não se esforçavam para o mínimo suspiro de ousadia,
Alimentavam-se nas migalhas das noites frias,
Um com as unhas cravadas no coração do outro,
Sabotavam-se em um fluxo contínuo e louco,
E viveram por longos anos encenando suas horas,
Pernetas morimbundos que desaprenderam a andar.

domingo, 17 de abril de 2011

Os fantasmas da praia - Sobre meninos e outras esquinas...


A penumbra distante que camufla a noite,
As palavras discretas que dissipam no vento,
Entre o mar tenebroso e as esquinas frias,
O faz de conta já não acontece.
Carros e luzes que encobrem os medos,
Sangue sugas sedentos atrás de desejo,
Satisfação efêmera de um eterno porvir,
Bocas abertas para parcos beijos.
Promessas e sussurros encharcados de álcool,
Cigarros apáticos piscando por entre os dedos,
Gritos abafados e alguns olhares de espanto,
Corpos disformes se exibindo pelos cantos.
Bizarro cenário de um pitoresco retrato,
Encenação pálida de um prazer inventado.

"Quem não sabe amar, fica esperando alguém que caiba no seu sonho,
como varizes que vão aumentando, como insetos em volta da lâmpada..."

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.

Roberto Ney Araújo.

domingo, 3 de abril de 2011

Amores bêbados


Na cadência descompassada
Dos que tropeçam pela noite escura,
Com seus trapos desajustados,
Perdem-se desesperados
Em uma eterna procura,
E entre beijos encharcados de alcool,
Cambaleiam firmes por esquinas nuas,
Esmolam por mais alguns carinhos,
Arriscam mais algumas aventuras.
Procuram nos bares desertos,
Tumefactas flores murchas,
Bebem-se sem muitas promessas,
Despem-se sem muitas conversas,
Embriagam-se de desilusões.
Cambaleiam firmes por esquinas nuas,
Inventando paixões.

Beijo pra quem é de beijo.
Abraço pra quem é de abraço.